quarta-feira, 15 de agosto de 2012

SAÚDE: DOE SANGUE!

Nathália Vitorio



O que é sangue?

O sangue são células que circulam pelo corpo, levando oxigênio e nutrientes a todos os órgãos. Ele é composto por plasma, hemácias, leucócitos e plaquetas.
O plasma é a parte líquida do sangue, de coloração amarelo palha, composto por água (90%), proteínas e sais. Através dele circulam por todo o organismo as substâncias nutritivas necessárias à vida das células. Essas substâncias são: proteínas, enzimas, hormônios, fatores de coagulação, imunoglobina e albumina. O plasma representa aproximadamente 55% do volume de sangue circulante.
As hemácias são as células conhecidas como glóbulos vermelhos, por causa do seu alto teor de hemoglobina, uma proteína avermelhada que contém ferro. As hemoglobina ajuda as hemácias a transportarem o oxigênio a todas as outras células do organismo. Elas também levam dióxido de carbono, produzido pelo organismo, até os pulmões, onde ele é eliminado. Existem entre 4 milhões e 500 mil a 5 milhões de hemácias por milímetro cúbico de sangue.
Os leucócitos, são células chamadas de glóbulos brancos, fazem a defesa do organismo. São responsáveis pela destruição de agressores como vírus, bactérias, etc. Existem entre 5 mil a 10 mil leucócitos por milímetro cúbico de sangue.
As plaquetas são pequenas células que tomam parte no processo de coagulação sanguínea, agindo nos sangramentos (hemorragias). Existem entre 200.000 e 400.000 plaquetas por milímetro cúbico de sangue.
O sangue é produzido na medula óssea dos ossos chatos, vértebras, costelas, quadril, crânio e esterno. Nas crianças, também os ossos longos como o fêmur produzem sangue.

A história das tranfusões.
A crença de que o sangue dá, sustenta a vida e também é capaz de salvá-la vem de tempos remotos. Entretanto, foram necessários séculos e séculos de estudos e pesquisas para a ciência descobrir sua real importância e dar a ele uso adequado.
Realizadas experimentalmente em animais, a primeira transfusão de sangue é atribuída a Richard Lower em demonstração realizada em Oxford, em 1665. A primeira experiência em ser humano aconteceu dois anos mais tarde em 1667, em Paris. Seu autor foi Jean B. Denis, professor de filosofia e matemática em Montpellier e médico do rei Luis XIV. Tomando um tubo de prata, Denis infundiu um copo de sangue de carneiro em Antoine Mauroy, de 34 anos, doente mental que perambulava nu pelas ruas da cidade. Conta-se que após resistir a duas transfusões, Mauroy teria falecido provavelmente em conseqüência da terceira. As transfusões de sangue nessa época eram com sangue de animais de espécies diferentes. Denis defendia a prática argumentando que, ao contrário do humano, o sangue de animais estaria menos contaminado de vícios e paixões. Entretanto, logo foram consideradas criminosas.
A primeira transfusão com sangue humano é atribuída a James Blundell, em 1818 que, após realizar com sucesso experimentos em animais, transfundiu sangue humano em mulheres com hemorragia pós-parto. Apesar do avanço que representava a transfusão em seres da mesma espécie, no final do Século 19, problemas relacionados à coagulação do sangue e a outras reações adversas continuavam a desafiar os cientistas.
Em 1900, o imulologista austríaco, Karl Landsteiner, observou que o soro do sangue de uma pessoa muitas vezes coagula ao ser misturado com o de outra, descobrindo o primeiro e mais importante sistema de grupo sangüíneo existente no organismo: o ABO.

Quando microorganismos ou substâncias estranhas, denominadas de antígenos, penetram em nosso corpo, os linfócitos entram em ação e passam a produzir anticorpos contra os invasores. Em geral, a reação do anticorpo com o antígeno acaba causando a destruição ou a inativação dos antígenos. Essa reação de defesa é fundamental para proteger nosso organismo contra o constante assédio de microorganismos causadores de doenças. Entretanto, Landsteiner percebeu que as hemácias ou glóbulos vermelhos do sangue podem ter, ou não, aderidos em suas membranas, dois tipos de antígenos (também conhecidos como aglutinogênios), A e B, nos quais podem existir quatro tipos de hemácias:
A: apresentam apenas antígeno A;
B: apresentam apenas antígeno B;
AB: apresentam antígenos A e B;
O: não apresentam nenhum dos dois antígenos.

No plasma podem existir, ou não, dois tipos de anticorpos (também conhecidos como aglutininas): Anti-A e Anti-B. Assim:

• o indivíduo de sangue tipo A não produz anticorpos Anti-A, mas é capaz de produzir anticorpos Anti-B, uma vez que o antígeno B lhe é estranho;
• o indivíduo de sangue tipo B não produz anticorpos Anti-B, mas é capaz de produzir anticorpos Anti-A, uma vez que o antígeno A lhe é estranho;
• o indivíduo AB não produz nenhum dos dois anticorpos pois os dois antígenos lhe são familiares;
• o indivíduo O é capaz de produzir anticorpos Anti-A e Anti-B, pois não apresenta em suas hemácias antígenos A e B.
A primeira transfusão precedida de exame de compatiblidade ABO foi realizada em 1907, por Reuben Ottenberg. No entanto, esse procedimento só passou a ser utilizado em larga escala a partir da Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918).

Como as pessoas do grupo AB não possuem aglutininas anti-A, nem Anti-B no plasma, são receptores universais, porque podem receber sangue de qualquer grupo do sistema ABO. Já as pessoas do grupo O, que são doadores universais, pois não possuem aglutinogênios em suas hemácias e seu sangue pode ser recebido por qualquer pessoa do sistema ABO.


Quase quatro décadas após a descoberta do sistema de grupo sangüíneo ABO, outro fato que revolucionou a prática da medicina transfusional foi a identificação, também em humanos, do fator Rh, observado no sangue de macacos Rhesus. Na população branca, cerca de 85% das pessoas possuem o fator Rh nas hemácias, sendo por isso chamados de Rh+ (Rh positivos). Os 15% restantes que não o possuem são chamados de Rh- (Rh negativos). É importante conhecer o tipo sangüíneo em relação ao sistema Rh, pois também nesse caso podem ocorrer reações de incompatibilidade em transfusões de sangue. Um indivíduo Rh negativo só deve receber transfusão de sangue Rh negativo. Caso receba sangue Rh positivo, haverá sua sensibilização e a formação de anticorpos Anti-Rh.
Os anticorpos Anti-Rh são responsáveis por uma doença conhecida como eritroblastose fetal ou doença hemolítica do recém-nascido, que decorre da incompatibilidade sangüínea entre a mãe e o feto (ela Rh- e ele Rh+), resultando na destruição das hemácias do feto pelos anticorpos Anti-Rh produzidos pela mãe.

Outro sistema importante, para a medicina-legal é o MN, pois auxilia na investigação de paternidade. Em 1951, eram conhecidos nove sistemas de grupos sangüíneos. Atualmente, são conhecidos 30 tipos.

Vencida a questão da incompatibilidade (referente ao sistema ABO e de Rh), a batalha enfrentada a seguir foi desenvolver processos e métodos que aumentassem a vida útil do sangue, permitindo o seu armazenamento e a formação de estoques. A primeira transfusão com sangue armazenado há 26 dias foi realizada em 1918, durante a Primeira Guerra Mundial, na batalha de Cambrai. Atualmente, o prazo de validade do sangue armazenado varia de 35 a 42 dias. Através do processo de criopreservação a –65 graus Celsius, o sangue pode durar até 10 anos. Por ser muito dispendioso, esse processo só é recomendável para a preservação de sangues raros. A descoberta das soluções anticoagulantes e conservantes, aliada ao desenvolvimento e aperfeiçoamento dos equipamentos de refrigeração, permitiu a organização dos centros de armazenamento de sangue. Idealizado em Leningrado, em 1932, o primeiro banco de sangue (hemocentro) surgiu em Barcelona, em 1936, durante a Guerra Civil Espanhola. O conceito ganhou corpo e expandiu-se durante e após a Segunda Guerra Mundial.

Como o sangue do tipo O com Rh positivo é considerado o doador universal, este é o mais utilizado nos hemocentros, sendo que o nos estoques este de corresponder a 50%. No Brasil, os grupos mais comuns são o A e o O. Juntos abrangem 87% da nossa população. O grupo B contribui 10% e o AB com apenas 3%. O percentual de tipos sanguíneos no Brasil é: O+ = 36%; O- = 9%; A+ = 34%; A- = 8%; B+ = 8%, B- = 2%; AB+ = 2,5%, AB- = 0,5%.

Curiosidades sobre doação de sangue:

- Com cada doação você pode salvar quatro vidas;
- O sangue representa cerca de 7% do peso corporal de uma pessoa adulta;
- Qualquer pessoa saudável, entre 16 e 67 anos de idade e com mais de 50 kg de peso, pode ser doadora de sangue;
- A doação não vicia! E o sangue não engrossa e nem afina com a doação;
- Doar sangue não ajuda a perder ou ganhar peso;
- Não deve estar em jejum, só evite comidas gordurosas;
- Todo processo dura cerca de uma hora;
- Mulheres podem doar no período menstrual;
- O volume total doado não pode ser maior que 8 ml/kg de peso para mulheres e 9 ml/kg para homens. O volume máximo doado é 500 ml (contando com a porcentagem para exames exigidos por lei e normas técnicas);
- O intervalo entre as doações é de 60 dias para os homens, e 90 dias para as mulheres, sendo que o máximo de doações por ano é quatro para os homens e três para as mulheres.


Bibliografia: